14 de março de 2014

about love


Quando seus olhos se encontraram com os meus a sua íris em forma de fera e cores de sonho, me devoraram lentamente. 
Me senti sugada para fora da minha existência e afogada nas águas escuras anunciadas pelo seu olhar. 
Haviam trevas em meio a sua luz. O doce equilíbrio entre o ser "humano" e ser "fantasia”. 
Ao mesmo tempo que é "Sim", é também "Não". Ao mesmo tempo que é "Vida", é também "Morte.". 
A personificação do sonho utópico de entender o paradoxo do sentir Amor, do sentir Amar. 
Ou talvez não seja nada disso.. porque também faz sentido pensar assim. 
Entre sons, sentidos e poesia..
Uma dança triste..
"Seus olhos de comer fotografia". 
Me enxergo neles, ao mesmo tempo que não os vejo.
Que eu me transborde do toque do seu olhar, ainda que não possa vê-lo, ainda que não seja real. 
Afinal de contas, o que é real? 
As fadas, estão lavando roupa nos quintais sem flores dessa terra cor de cinza. 
Os duendes batem seus pontos nos escritórios tristes dessa floresta de concreto e aço. 
Os dragões alimentam o fogo da alma daquelas vozes tristes que pedem esmolas nas ruas de gelo e dor. 
Isso é real. 
Uma vez ouvi dizer que Platão concebia o amor como algo desprovido de paixões, que o Amor não se fundamentava na vontade e sim na virtude.
Isso é real?
Eu me perdi no vale de sombras que há entre seus olhos e seu coração, e não consegui achar a pedra bruta que disseram estar por ali. Não. Encontrei flor.. encontrei flor.. E esta flor emitia o aroma capaz de transformar noite em dia, de transformar Yin em Yang.. de nos fazer dois, enquanto somos um. Aroma que nem mesmo Süskind seria capaz de fazer Grenouille replicar.. ainda que seu romance virasse uma novela de infinitos capítulos.
Infinitos capítulos.. como nessa história em quadrinhos fantasiada de conto de fadas que insistimos ser a nossa. Contos de fada sempre tem finais felizes.. mas histórias em quadrinhos podem acabar em meio a sangue e guerra.. isso nós esquecemos de nos contar.

Hoje eu acordei pensando nos seus olhos..
Hoje eu acordei e olhei pra você.. e eu não estava ali.
Hoje eu acordei e seus olhos viraram fotografia.. fria e sem vida, daquelas que colocamos na parede apenas para cobrir os buracos que o desgaste do tempo causou.

Dia estranho.


em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós


Paulo Leminki, em Contranarciso