8 de junho de 2012

fail

"Sou tua amiga."
Discurso falho.

"Não vamos voltar." 
Discurso falho.

"Eu não quero mais." 
Discurso falho.

"Eu estou feliz."
Discurso falho

"Eu te amo."

FALHO, FALHO, DISCURSO FALHO. 

O frio está subindo pelos meus pés, dominando músculo por músculo, lentamente. 
As mãos falham na tentativa tola de encontrar as palavras certas. As vozes, os cheiros, as cores... Tudo tão disperso e distante, agora. O menino das histórias infantis retornou, doce e forte, como nunca deixou de ser. 
... Frases soltas, sem sentido, sem porquê. 
Triste vê-lo partindo, tendo estado por tão pouco tempo aqui.
Tenho medo do que vive aqui dentro, do que pode acontecer depois. Mas o depois, só vem depois. Posso, por hora, fechar os olhos e sentir o formigamento entre os dedos, suave e constante.
Posso lembrar de outros braços, do cheiro, do som distante de um chuveiro enquanto o formigamento em minhas mãos passava. Do cheiro de frescor fluindo quando o som passou, e os braços me envolviam novamente. "Vermelhos são seus beijos, quase que me queimam". Quase que me queimam, o cheiro que ficou na pele, o cheiro que ficou nos lençóis, o cheiro que ficou na alma. 
Posso lembrar do abraço de uma amigo, sincero e apertado, do cheiro amadeirado, forte, porém discreto."parece cocaína, mas é só tristeza.."
 Posso me lembrar da conversa cheia de indiretas camufladas de medo, do cheiro doce de um abraço demorado e sem fôlego - por causa da escada, claro. "tudo o que pode acontecer com dois bicudos."
Posso me lembrar que, no final, os discursos serão os mesmos. E que serão sempre falhos. Sempre falhos.

Eu não acredito no amor. 
Mas os cheiros, esses eu os guardo comigo. Cada um deles, por toda a eternidade de um momento. Ou pelo instante de um para sempre.

"tempo, tempo, tempo, és um dos deuses mais lindos" 

3 de junho de 2012

paradoxo

Gosto do café bem amargo, mas não resisto à colocar uma colher á mais de açúcar. Gosto de dias bem frios, mas me recuso à sair debaixo das cobertas para enfrentá-los. Fico eufórica quando vejo a lua, mas lágrimas escorrem dos meus olhos quando a observo por muito tempo. Eu gosto de longos beijos, mas tenho o dom de interrompê-los. Gosto de declarações de amor, mas não as faço com frequência. Gosto de vermelho, mas o preto me cai melhor. Gosto das canções mais suaves, mas durmo ao som de metal. Gosto do cheiro que fica no ar quando chove no verão, mas fico doente quando o sinto. Gosto de literatura contemporânea, mas tenho uma coleção de clássicos do século XVIII, da qual tenho um ciúme doentio, e que leio repetidas vezes, incansavelmente, desde sempre. Gosto de gente feliz, mas efusividade me irrita com facilidade. Gosto das cores do arco-íris, mas o cinza me fascina. Gosto de ter certeza, mas a dúvida me domina. Eu gosto de ser previsível, mas insisto em surpreender. Gosto de cabelos vermelhos e sardas, embora nunca os tenha tocado. Eu gosto do novo, embora estudar o passado é o que me impulsiona a viver. Eu gosto do muito, mas o pouco me satisfaz. Tenho amores eternos, mas os odeio quase que diariamente. Eu me apaixono facilmente, mas posso contar nos dedos as vezes que estive apaixonada. Eu tenho medo do escuro, mas é nele que me abrigo quando a dor ultrapassa seus limites.

Pandora se voltou contra Prometeu e abriu a caixa, e todas as emoções e frustrações se espalharam pelo meu ser. Nos dias claros, o desejo é das noites profundas. Nas negras madrugadas, as luzes da aurora transformam-se em chamas de desespero. Um, dois, três, quatro.. talvez sete. Não sei ao certo, são muitos. Muitos vivendo em apenas um lugar.. as certezas de uns, inseguranças de outros. Cada um para seu fim, cada um para seu norte e apenas um corpo para agir.
As palavras saem em gotas e as emoções são mascaradas. A navalha do destino vai fazendo cortes profundos e irreparáveis. Sangrar já não me incomoda, já não nos incomoda.
Ainda há os que se aventuram, mas logo iremos derrubá-los, destruí-los - é essa a nossa natureza. Tolos.
Onde estarão os sentimentos? Talvez a caixa aberta por Pandora, de alguma forma, os tenha aprisionado, através de uma magia chamada razão.
Basta que alguém neutralize essa magia tão maligna, abra novamente a caixa e liberte os sentimentos, fazendo-os voar de volta para mim.

Just an paradox.