3 de junho de 2012

paradoxo

Gosto do café bem amargo, mas não resisto à colocar uma colher á mais de açúcar. Gosto de dias bem frios, mas me recuso à sair debaixo das cobertas para enfrentá-los. Fico eufórica quando vejo a lua, mas lágrimas escorrem dos meus olhos quando a observo por muito tempo. Eu gosto de longos beijos, mas tenho o dom de interrompê-los. Gosto de declarações de amor, mas não as faço com frequência. Gosto de vermelho, mas o preto me cai melhor. Gosto das canções mais suaves, mas durmo ao som de metal. Gosto do cheiro que fica no ar quando chove no verão, mas fico doente quando o sinto. Gosto de literatura contemporânea, mas tenho uma coleção de clássicos do século XVIII, da qual tenho um ciúme doentio, e que leio repetidas vezes, incansavelmente, desde sempre. Gosto de gente feliz, mas efusividade me irrita com facilidade. Gosto das cores do arco-íris, mas o cinza me fascina. Gosto de ter certeza, mas a dúvida me domina. Eu gosto de ser previsível, mas insisto em surpreender. Gosto de cabelos vermelhos e sardas, embora nunca os tenha tocado. Eu gosto do novo, embora estudar o passado é o que me impulsiona a viver. Eu gosto do muito, mas o pouco me satisfaz. Tenho amores eternos, mas os odeio quase que diariamente. Eu me apaixono facilmente, mas posso contar nos dedos as vezes que estive apaixonada. Eu tenho medo do escuro, mas é nele que me abrigo quando a dor ultrapassa seus limites.

Pandora se voltou contra Prometeu e abriu a caixa, e todas as emoções e frustrações se espalharam pelo meu ser. Nos dias claros, o desejo é das noites profundas. Nas negras madrugadas, as luzes da aurora transformam-se em chamas de desespero. Um, dois, três, quatro.. talvez sete. Não sei ao certo, são muitos. Muitos vivendo em apenas um lugar.. as certezas de uns, inseguranças de outros. Cada um para seu fim, cada um para seu norte e apenas um corpo para agir.
As palavras saem em gotas e as emoções são mascaradas. A navalha do destino vai fazendo cortes profundos e irreparáveis. Sangrar já não me incomoda, já não nos incomoda.
Ainda há os que se aventuram, mas logo iremos derrubá-los, destruí-los - é essa a nossa natureza. Tolos.
Onde estarão os sentimentos? Talvez a caixa aberta por Pandora, de alguma forma, os tenha aprisionado, através de uma magia chamada razão.
Basta que alguém neutralize essa magia tão maligna, abra novamente a caixa e liberte os sentimentos, fazendo-os voar de volta para mim.

Just an paradox.