29 de outubro de 2009

Escritos

Olhe dentro desses olhos escuros e cansados e veja a terrível verdade escondida ali durante toda um vida. Veja que, além daquelas pupilas dilatadas pelo choro incessante, há ainda a esperança de uma criança corrompida.


Doeu ver a morte tão de perto e não poder seguir a seu lado. E aqueles olhos preferiram se esconder, pra sempre. Se afogaram nas profundezas da dor a espera do momento em que, mais uma vez, se deslumbrariam com a face da morte. E dessa vez seguiriam ao lado dela, quem sabe sem passar por qualquer julgamento ou punição, caminhando sempre em frente, de mãos dadas com a tão esperada companheira, em direção ao fim, o fim de tudo.

A escurião daqueles olhos, o gelo que se via neles. A vontade evidente de não mais se abrir. Olhos de morte em um rosto angelical. Pele de anjo, coração sofredor. Corpo marcado pela fúria de um homem cujo destino fora traçado junto ao seu.

Sangue e lágrimas. Ela já não conseguia distinguir o gosto individual de cada um, afinal eram parceiros inseparáveis. E o sabor amargo, doce e forte que tinham quando misturados era terrívelmente bom. E o cheiro de ambos a deixava alucinada.

Sonhos, nunca os tivera. Nem mesmo uma ilusão de felicidade, somente aquela realidade, a sua realidade, a realidade a qual se submetera e da qual não se esforçava para sair. Ela já ñão se esforçava para nada. Apenas esperava, espera o dia em que a rotina se alterasse. Primeiro viria a dor, depois o sangue, as lágrimas, sempre juntos, e por fim, seus olhos se fechariam, não para um sono sem sonhos, como sempre acontecia, mas para o encontro com a tão esperada e bem quista amiga: a morte.